quinta-feira, 30 de abril de 2020

60 Anos Vila Dimas

Vila Dimas 60 Anos 
Formada em 1 de maio de 1960



Monografia Sobre a Vila Dimas

https://drive.google.com/file/d/17tNcde-Zcja1yxz7FwW0YUaPXCzGVo-c/view



Sobradinho da Associação dos moradores da Vila Dimas e residência do pioneiro
 Dimas Leopoldino da Silva (1960)


A Vila Dimas é produto da segregação socioespacial de Brasília, a moderna capital edificada no interior da nação brasileira. Inicialmente planejada para 500.000 habitantes, resultado do descontrole no arranjo espacial do Distrito Federal, antes mesmo de sua inauguração. Estava deflagrado o conflito socioespacial, sendo que as áreas do centro, intencionalmente destinadas ao funcionalismo público, favorecia as melhores ocupações territoriais.  O que não foi pensado no início das obras da futura capital, era absorver o excesso populacional que se espalhava periferizando o seu território. Desta forma, contribuiu para que os pioneiros trabalhadores ocupassem as áreas irregulares, ocasionando assim, o acirrado conflito entre as classes sociais e os espaços a serem ocupados. Sabendo-se, que as áreas nobres situadas no centro eram cooptadas pelos interesses políticos, agentes imobiliários e as periferias ocupadas pelas classes pobres sem condições a acessibilidade à serviços de qualidades, moradia, transporte, segurança entre outros. Fez-se necessária a antecipação de novas centralidades, com a criação das cidades satélites, a exemplo de Taguatinga surgida oficialmente em 1958, com o objetivo de minimizar as discrepâncias não previstas no projeto urbanístico original e barrar o aparecimento das invasões de terras nos arredores do Plano Piloto. Assim, desenvolveu o cenário desigual, caótico e conflitante, com o formigueiro de migrantes operários trabalhadores que ocupavam irregularmente as terras do Distrito Federal. Em 1960 após a inauguração de Brasília, os candangos eram forçados a deixarem os acampamentos, núcleos provisórios e retornarem às suas regiões de origem ou permanecerem nas inúmeras invasões e vilas que se formavam da noite para o dia. No sentido de atender o grande fluxo migratório crescente durante e após a inauguração de Brasília, as invasões e vilas foram surgindo, a exemplo da Vila Dimas em 1 de maio de 1960, mesmo ano da inauguração da nova capital. A Vila Dimas é produto da necessidade em acomodar os excluídos candangos que não podiam residir no Plano Piloto nem nos acampamentos e núcleos provisórios, os quais estavam com prazos definidos para serem removidos depois da inauguração da nova capital. A Vila Dimas e outros núcleos conseguiram se fixar permanentemente no Distrito Federal. A Vila Dimas está localizada nas QSE Taguatinga Sul, R.A III - Região Administrativa de Taguatinga. A ocupação da Vila Dimas, dirimiu os conflitos do processo da política por moradia, ao atender as famílias dos operários e fixa-las definitivamente no Distrito Federal.



Palavras-chave: Vila Dimas, Segregação socioespacial, Brasília.
 Prof. Manoel Messias Dias da Silva



Pioneiro Dimas com seus familiares


Laser na Praça da Vila Dimas 2018


Filhos do Pioneiro Dimas 


Filhos do Pioneiro Dimas recebem homenagem na Praça da Vila Dimas



Pioneiro Dimas Leopoldino da Silva, 2004



Dimas, 1970




 Professor Manoel Messias Dias da Silva (2018)
Geógrafo e pesquisador da história de Brasília .
Filho do pioneiro Dimas.




 Relógio que marca uma era (2015)


Relógio da Praça de Taguatinga Centro (1970)


Prof. Manoel Messias Dias da Silva (2018)
Geógrafo e pesquisador da história de Brasília


A construção de Brasília notadamente foi um marco para a história da humanidade “ Patrimônio Cultural da Humanidade ”, merecido título que recebeu da UNESCO - Organização das nações unidas para a educação, a ciência e a cultura.
O ideário da construção de uma capital no interior, surgiu ainda no período do Brasil império, cuja capital era o Rio de Janeiro.
Até o início das obras no Planalto Central, foram anos de preparação, na Constituição Federal, parlamentares constituintes e por fim, o empreendedorismo do Presidente da República Juscelino Kubitschek de Oliveira.
As obras da construção da nova capital iniciaram-se em 1956, nas terras do estado de Goiás, desapropriando os municípios de Planaltina, Formosa e Luziânia, o quadrilátero da Missão Cruls delineava os limites territorial do Distrito Federal.
Os operários da construção civil receberam o apelido de candangos e estes em números incontáveis, migraram para o Centro Oeste para trabalhar nos diversos canteiros de obras administrados pela NOVACAP Companhia Urbanizadora da Nova Capital.
O projeto original dos arquitetos e urbanistas Lucio Costa e Oscar Niemayer, para a construção de Brasília, previa acomodar somente 500.000 habitantes, fato que, mesmo antes da sua inauguração, tiveram que reformular e começar a construir as cidades satélites para conseguirem alojar os operários e famílias que desembarcavam a todo momento em solo candango.
Os pioneiros e candangos oriundos de todas as localidades brasileira, enfrentaram grandes desafios, nas péssimas ou quase nenhuma estrada para chegar em Brasília, eram transportados em Paus-de-arara, caminhão improvisado sem nenhum conforto e segurança.
O cenário da construção de Brasília era caótico e desolador, terra vermelha do cerrado, muita poeira, lama, redemoinhos que varriam os casebres dos pioneiros.
Não tinham infraestrutura adequada, saneamento básico, energia elétrica e água de qualidade.
Com a chegada dos pioneiros candangos os poucos núcleos provisórios no total de meia dúzia, não podia mais acomodar os migrantes que chegavam dia e noite para se colocar no mercado de trabalho ou até mesmo, atender o convite para a interiorização do Brasil.
Surgia as invasões de terras irregulares e o processo de favelização margeava os núcleos e a região central do Plano Piloto, Brasília em 1957 já estava vivendo um cenário desigual e conflitante.
O poder hegemônico usava a força truculenta da GEB Guarda Especial de Brasília para conter o avanço das invasões de terras e colocar respeito e segurança nos canteiros de obras.
Brasília foi planejada para atender o alto escalão e os funcionários públicos que teriam direito de permanecer no Plano Piloto, os trabalhadores da construção civil e outras famílias de comerciantes e ambulantes deveriam ficar nos núcleos e acampamentos, as cidades satélites somente depois seriam construídas.
Mas, por necessidade em acomodar os pioneiros foi necessária a construção de Taguatinga no ano de 1958, sendo assim oficializada a primeira cidade satélite do Distrito Federal.
Taguatinga surge nas terras da fazenda que pertencia ao município de Luziânia 25 km à Oeste do Plano Piloto, como alternativa de desafogar o trecho dos núcleos até o centro e erradicar as invasões que se alastravam por todo o Distrito Federal.
Era sem dúvida uma opção para acomodação de famílias pioneiras previamente cadastradas para receber lotes na recém-criada satélite.
O processo de cadastro para ocupação de Taguatinga não agradou os pioneiros e nem mesmo atendiam a demanda por moradia.
 Ficando restrito o número de família para serem contempladas com lotes ou projeto de casas populares que seriam posteriormente entregues.
Em 21 de abril de 1960, o mais esperado acontecimento de todos os brasileiros, JK inaugura Brasília no Plano Piloto, cerne de todas as horarias com direito a fogos de artifícios.
Os núcleos provisórios deveriam ser extintos os canteiros destruídos e os candangos seriam retornados aos seus lugares de origem.
Ninguém saiu ou retornou para seus lugares de origem, permaneceram contra a vontade da Novacap.
Surge a Vila Dimas ao Sul de Taguatinga, no dia 1 de maio de 1960, com intencionalidade de dar espaço aos excluídos das inúmeras invasões, os quais pudessem erguer suas moradias.
O líder pioneiro Dimas Leopoldino da Silva assentou aproximadamente 3 mil famílias de várias invasões, sacolândia era uma invasão que seus barracos eram feitos de sacos de cimentos endurecidos pela chuva.
Outra invasão que foi erradicada para a Vila Dimas, foi a do IAPI e inúmeras famílias que não se enquadravam para recebimentos dos lotes do governo.
Anos a seguir os núcleos provisórios resistiram e se fixaram em seus locais, outros foram transferidos para a Satélite de Ceilândia que também surgiu como alternativa de barrar o crescente números de invasões que não paravam de crescer no Distrito Federal.
O Distrito Federal conta hoje com 31 regiões administrativas, Taguatinga tornou-se R.A III / Decreto 4.545 de 10 de dezembro de 1964, as invasões de terras públicas não param de surgir, até mesmo na classe média e alta.
O governo do DF tem sistematicamente tratado este assunto com inúmeras politicas habitacionais, cooperativas, assentamentos que se tornam em RA, listagem para contemplação dos pioneiros, funcionalismo público e outras normas para contemplar seus habitantes.
A análise que faço neste trabalho de pesquisa, é que o processo de moradia no quadrilátero Cruls, extrapolou para os mesmos municípios que foram desapropriados e agora outros.
A dinâmica crescente por moradia no DF nunca teve fim, são atenuadas com programas governamentais que tentam dirimir esta questão, que deu inicio com a interiorização no Planalto Central.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMINO, João. Cidade Livre. Rio de Janeiro: Record, 2010.

BASSUL, José Roberto. A estrutura fundiária do Distrito Federal e a dinâmica do desenvolvimento urbano. In: Anais do Seminário Internacional sobre gerenciamento de rendas fundiárias e custos urbanos. Brasília, 1998, p. 1-9

BAHOUTH, Alberto Júnior. Taguatinga Pioneiros e Precursores. Brasília: HP. Mendes, 1978.

BUARQUE, C. A desordem do progresso, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990.

BRANDÃO, Vera Bonna. Espaço Urbano / Apropriação Social: um estudo de caso dos espaços públicos abertos de Taguatinga. 2003.P. 81- Dissertação Mestrado em Arquitetura e Urbanismo – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de Brasília, Brasília, 2003.

CORRÊA, Roberto Lobato. O espaço urbano. São Paulo: Ática, 1995.

CORRÊA, Roberto Lobato. A cidade contemporânea: segregação espacial. SP: Contexto, 2013.

CARLOS, Ana Fani ALESSANDRI et. al. A produção do espaço urbano: agentes e processos, escalas e desafios, São Paulo: Contexto, 2007.

CARLOS, A. F. A. O lugar no mundo. São Paulo: Hucitec, 1996.

COSTA, Lúcio. Registro de uma vivência. São Paulo: Empresa das Artes, 1997.

CREASE, David. Progresso em Brasília. Londres: The Architectural Review, 1982.

CRULS, Luiz. Relatório da Comissão Exploradora do Planalto Central do Brasil. Rio de Janeiro: H. Lombaerts & C. Impressores do Observatório, 1894.

ESTERCI, Neide. O mito da democracia no país das bandeiras: análise simbólica dos discursos sobre imigração e colonização do Estado Novo. Rio de Janeiro: UFRJ, 1972.

FERREIRA, I.C.B., Gestão do Território e novas territorialidades. In: PAVIANI, Aldo (org.) Brasília – gestão urbana: conflitos e cidadania. Brasília: Editora UNB, 1998.
FREITAS, Clarissa.F.S. Direito a cidade no processo de expansão urbana do Distrito Federal. Brasília: Editora UNB, 2009.

HARVEY, David. A produção capitalista do espaço. São Paulo: Annablume, 2006.

RELPH, Edward. Lugar e sociedade. London: Pion, 1976.

HOLSTON, James. A cidade modernista: uma crítica de Brasília e sua utopia. Tradução Marcelo Coelho, São Paulo: Companhia das Letras, 1989.

IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - Censo Demográfico. Série Relatórios Metodológicos, Vol. 25. Rio de Janeiro: IBGE, 2010.

COSTA, Lucio. Brasília revisitada: complementação, preservação, adensamento e expansão urbana. Rio de Janeiro: Editora Olympio, 1985.

LUZ, Clemente. Invenção da cidade: Brasília 2 ed. Rio de Janeiro: Record, Brasília, INL, 1982.

MELLO, Marcelo de. A Revolução de 1930 e o discurso da ruptura. Goiânia: UFG, 2006.

OLIVEIRA, Tony M.G.O. Marcas do processo de formação do espaço urbano de Brasília pela ótica da erradicação de favelas. Brasília: Universitas Humanas, 2008.

PAVIANI, Aldo. A construção injusta do espaço urbano. Brasília: Editora UNB, 1991.

PAVIANI, Aldo. Brasília: moradia e exclusão. 1 ed. Brasília: Editora UNB, 1996.

PAVIANI, Aldo. Metrópole terciária. In: PAVIANI, Aldo. A ideologia e realidade: espaço urbano em questão. Brasília: Editora UNB, 1985.

PAVIANI, Aldo. A construção injusta do espaço urbano. In: PAVIANI, Aldo. A conquista da cidade. Movimentos Populares em Brasília. Brasília: Editora UNB, 1991.

QUEIROZ, Eduardo Pessoa. A formação histórica da região do Distrito Federal e entorno: dos municípios-gênese à presente configuração territorial. Brasília: Editora UNB, 2007.

RODRIGUES, T.T. Vila Planalto: de acampamento ao contexto de Brasília patrimonializada. Brasília: UNB, Geografia, 2013.

SANTOS, Milton. A cidade nos países subdesenvolvidos. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1965.  

SANTOS, Milton. O novo mapa do mundo: fim de século e globalização. São Paulo: HUCITEC; ANPUR, 1994.

SANTOS, Milton. Territórios: Ensaios sobre o ordenamento territorial. Rio de Janeiro: DP&A Editora, 2006.

SANTOS, Milton. Metamorfoses do espaço habitado: fundamentos teóricos e metodológicos da Geografia. 6 ed. São Paulo: EDUSP, 2008.

SANZIO, Rafael.A.A. Brasília 50 anos de dinâmica territorial urbana. Brasília: Revista Eletrônica, 2012.
SOJA, Edward W. Geografias pós-modernas: a reafirmação do espaço na teoria social crítica. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2000.

VASCONCELOS, José Adirson. A mudança da capital. Brasília: Centro Gráfico do Senado Federal, 1978.

VASCONCELOS, José Adirson. Os Pioneiros da construção de Brasília. Brasília: Centro Gráfico do Senado Federal, 1992.

VASCONCELOS, José Adirson. As Cidades Satélites de Brasília. Brasília: Centro. Gráfico do Senado Federal: Brasília, 1988.


VESENTINI, Willian José. A capital da geopolítica. São Paulo: Ática, 1986.




Por Prof. Manoel Messias Dias da Silva


GRUPO NO FACEBOOK

https://www.facebook.com/groups/497350877317612/?ref=bookmarks