Dimas distribuindo lotes na vila que levou o seu nome:
Vila Dimas
Foto: Arquivo Família Dias
Dimas Leopoldino da Silva e as primeiras famílias do assentamento Vila Dimas
VILA DIMAS: REFÚGIO DE CANDANGOS E PIONEIROS NA CONSTRUÇÃO DE BRASÍLIA
Autor: Prof. Manoel Messias Dias da Silva
Resumo
Vila Dimas nasce junto com Brasília, no ano de
1960, numa região localizada em Taguatinga Sul no Distrito Federal, servindo de
refúgio aos pioneiros, candangos e trabalhadores migrantes vindos de todas as
localidades da nação, sobre tudo do nordeste, comprometidos na construção de
Brasília, vítimas da segregação socioespacial. A Vila Dimas teve como fundador,
Dimas Leopoldino da Silva, pioneiro, camponês, religioso, natural de Bela Vista
GO, que havia lutado ao lado de José Porfírio, líder da chamada Guerrilha das
Trombas no Formoso, região norte de Goiás. Dimas chega a Brasília no dia 7 de
setembro de 1957, se estabelecendo aos arredores da Cidade Livre, hoje cidade
satélite do Núcleo Bandeirante, juntamente com a sua família, se acampam
debaixo de uma gameleira com seu caminhão pau de arara. A história da Vila
Dimas está intimamente ligada com a construção de Brasília, fundada por
Juscelino Kubitschek de Oliveira e uma grande equipe de engenheiros, arquitetos
e urbanistas com a missão de erguer em meio ao cerrado do planalto central a
Capital da República. Uma boa parte dos pioneiros e candangos após a construção
de Brasília permaneceu no Plano Piloto e foram testemunhas oculares da ocupação
de áreas não prevista no plano original. A Vila Planalto próxima ao Palácio do
Planalto e Paranoá permaneceram em seus locais de origem, devido à absorção de
mãos de obra para o mercado de trabalho, utilizada pela Companhia Urbanizadora
da Nova Capital – NOVACAP. Ainda, no período da construção de Brasília, já era
percebido um elevado número de aglomerados urbanos à sua volta, as vilas e
invasões se formavam da noite para o dia, ao mesmo tempo em que eram executados
os mais arrojados projetos no eixo central; a fragmentação socioespacial dá
lugar à segregação das classes econômicas, propiciando os surgimentos de novos
núcleos habitacionais ao seu redor, com construções de barracos de madeira
feitos com as sobras dos canteiros de obras. A Cidade Livre era um núcleo
provisório dos pioneiros e candango, um lugar de laser para os trabalhadores
das construtoras. Lá abrigava variado comércio de bens e serviços, dois
cinemas, cantinas e muitos botecos com música tocada por trios de forró,
tradição nordestina. O outro acampamento provisório era a Candangolândia que
ficava entre a Cidade Livre e a invasão do Instituto de Aposentadoria e Pensões
dos Industriários - IAPI. Na Candangolândia estava o presídio e a sede da
Guarda Especial de Brasília - GEB. Esta guarda era um serviço de vigilância
ligado à NOVACAP, que tinha a função de proteger os inúmeros canteiros de
obras, bem como, manter a ordem pública. Mas tarde a GEB foi incorporada a
Policia Militar e a Policia Civil do Distrito Federal. Para além, estava o
Plano Piloto, centro administrativo com a esplanada dos ministérios, palácios,
residências para o alto escalão do poder; as cidades satélites, conhecidas como
cidades dormitórios, que em número reduzidos não conseguiam absorver um elevado
contingente populacional que chegavam diuturnamente em solo candango.
"Candango" é o termo dado aos trabalhadores que migravam à futura
capital para sua construção e também dado às pessoas que nascem no Distrito
Federal. O surgimento da Vila Dimas está vinculado à primeira remoção da
invasão do IAPI. Nesta invasão os moradores foram surpreendidos na manhã de 1º
de maio de 1960, pela GEB, que dava ordem de despejo, reprimindo e retirando as
famílias a força. Dimas liderou o movimento de resistência, negociou com o
Governo a transferência de mais de três mil famílias desabrigadas para um
chapadão do cerrado, localizado ao sul da fazenda Taguatinga a Oeste de
Brasília. Taguatinga antes pertencente ao município de Luziânia Goiás. Desde
1958 que Taguatinga já acolhia um grande contingente populacional e se
transformava em cidade satélite de Brasília. Anos mais tarde na década de 70, o
Governo erradica de vez a invasão do IAPI criando a Campanha de Erradicação das
Invasões - CEI, transferindo para a futura cidade satélite de Ceilândia e
depois para a satélite da Candangolândia. O processo de ocupação da Vila Dimas
foi ordeiro e pacifico, famílias eram assentadas em glebas de terras demarcadas
pelo seu líder. Na Vila Dimas os moradores podiam contar com igrejas, feira
livre e comércio ao redor da praça que estava localizada a sede administrativa,
espécie de subprefeitura que promovia assistência social e filantropia para
toda sua comunidade. Estes moradores foram vítimas de todas as sortes de
preconceitos e da segregação socioespacial, imposição arbitrária e controladora
do poder hegemônico às pessoas que não conseguiam se instalar nas poucas
cidades próximas ao Plano Piloto, região central da Nova Capital.
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CORRÊA, Roberto Lobato. A
Cidade Contemporânea: Segregação Espacial. SP: Ed. Contexto, 2013.
VASCONCELOS, José Adirson. Os
Pioneiros da construção de Brasília-1992.
BAHOUTH, Alberto Júnior. Taguatinga Pioneiros
e Precursores- 1978 Ed. HP. Mendes. Brasília-DF.