Vila Dimas 60 Anos
Formada em 1 de maio de 1960
Monografia Sobre a Vila Dimas
Sobradinho da Associação dos moradores da Vila Dimas e residência do pioneiro
Dimas Leopoldino da Silva (1960)
A
Vila Dimas é produto da segregação socioespacial de Brasília, a moderna capital
edificada no interior da nação brasileira. Inicialmente planejada para 500.000
habitantes, resultado do descontrole no arranjo espacial do Distrito Federal, antes
mesmo de sua inauguração. Estava deflagrado o conflito socioespacial, sendo que
as áreas do centro, intencionalmente destinadas ao funcionalismo público,
favorecia as melhores ocupações territoriais.
O que não foi pensado no início das obras da futura capital, era
absorver o excesso populacional que se espalhava periferizando o seu
território. Desta forma, contribuiu para que os pioneiros trabalhadores
ocupassem as áreas irregulares, ocasionando assim, o acirrado conflito entre as
classes sociais e os espaços a serem ocupados. Sabendo-se, que as áreas nobres
situadas no centro eram cooptadas pelos interesses políticos, agentes
imobiliários e as periferias ocupadas pelas classes pobres sem condições a
acessibilidade à serviços de qualidades, moradia, transporte, segurança entre
outros. Fez-se necessária a antecipação de novas centralidades, com a criação
das cidades satélites, a exemplo de Taguatinga surgida oficialmente em 1958,
com o objetivo de minimizar as discrepâncias não previstas no projeto
urbanístico original e barrar o aparecimento das invasões de terras nos arredores
do Plano Piloto. Assim, desenvolveu o cenário desigual, caótico e conflitante,
com o formigueiro de migrantes operários trabalhadores que ocupavam
irregularmente as terras do Distrito Federal. Em 1960 após a inauguração de
Brasília, os candangos eram forçados a deixarem os acampamentos, núcleos
provisórios e retornarem às suas regiões de origem ou permanecerem nas inúmeras
invasões e vilas que se formavam da noite para o dia. No sentido de atender o
grande fluxo migratório crescente durante e após a inauguração de Brasília, as
invasões e vilas foram surgindo, a exemplo da Vila Dimas em 1 de maio de 1960, mesmo
ano da inauguração da nova capital. A Vila Dimas é produto da necessidade em
acomodar os excluídos candangos que não podiam residir no Plano Piloto nem nos
acampamentos e núcleos provisórios, os quais estavam com prazos definidos para
serem removidos depois da inauguração da nova capital. A Vila Dimas e outros
núcleos conseguiram se fixar permanentemente no Distrito Federal. A Vila Dimas
está localizada nas QSE Taguatinga Sul, R.A III - Região Administrativa de
Taguatinga. A ocupação da Vila Dimas, dirimiu os conflitos do processo da
política por moradia, ao atender as famílias dos operários e fixa-las
definitivamente no Distrito Federal.
Palavras-chave: Vila
Dimas, Segregação socioespacial, Brasília.
Prof. Manoel Messias Dias da Silva
Pioneiro Dimas com seus familiares
Laser na Praça da Vila Dimas 2018
Filhos do Pioneiro Dimas
Filhos do Pioneiro Dimas recebem homenagem na Praça da Vila Dimas
Pioneiro Dimas Leopoldino da Silva, 2004
Dimas, 1970
Professor Manoel Messias Dias da Silva (2018)
Geógrafo e pesquisador da história de Brasília .
Filho do pioneiro Dimas.
Relógio que marca uma era (2015)
Relógio da Praça de Taguatinga Centro (1970)
Prof. Manoel Messias Dias da Silva (2018)
Geógrafo e pesquisador da história de Brasília
A construção de Brasília notadamente foi um marco
para a história da humanidade “ Patrimônio Cultural da Humanidade ”, merecido
título que recebeu da UNESCO - Organização das nações unidas para a educação, a
ciência e a cultura.
O ideário da construção de uma capital no interior,
surgiu ainda no período do Brasil império, cuja capital era o Rio de Janeiro.
Até o início das obras no Planalto Central, foram
anos de preparação, na Constituição Federal, parlamentares constituintes e por
fim, o empreendedorismo do Presidente da República Juscelino Kubitschek de
Oliveira.
As obras da construção da nova capital iniciaram-se
em 1956, nas terras do estado de Goiás, desapropriando os municípios de
Planaltina, Formosa e Luziânia, o quadrilátero da Missão Cruls delineava os
limites territorial do Distrito Federal.
Os operários da construção civil receberam o apelido
de candangos e estes em números incontáveis, migraram para o Centro Oeste para
trabalhar nos diversos canteiros de obras administrados pela NOVACAP Companhia
Urbanizadora da Nova Capital.
O projeto original dos arquitetos e urbanistas Lucio
Costa e Oscar Niemayer, para a construção de Brasília, previa acomodar somente
500.000 habitantes, fato que, mesmo antes da sua inauguração, tiveram que
reformular e começar a construir as cidades satélites para conseguirem alojar
os operários e famílias que desembarcavam a todo momento em solo candango.
Os pioneiros e candangos oriundos de todas as
localidades brasileira, enfrentaram grandes desafios, nas péssimas ou quase
nenhuma estrada para chegar em Brasília, eram transportados em Paus-de-arara,
caminhão improvisado sem nenhum conforto e segurança.
O cenário da construção de Brasília era caótico e
desolador, terra vermelha do cerrado, muita poeira, lama, redemoinhos que
varriam os casebres dos pioneiros.
Não tinham infraestrutura adequada, saneamento
básico, energia elétrica e água de qualidade.
Com a chegada dos pioneiros candangos os poucos
núcleos provisórios no total de meia dúzia, não podia mais acomodar os
migrantes que chegavam dia e noite para se colocar no mercado de trabalho ou
até mesmo, atender o convite para a interiorização do Brasil.
Surgia as invasões de terras irregulares e o
processo de favelização margeava os núcleos e a região central do Plano Piloto,
Brasília em 1957 já estava vivendo um cenário desigual e conflitante.
O poder hegemônico usava a força truculenta da GEB
Guarda Especial de Brasília para conter o avanço das invasões de terras e
colocar respeito e segurança nos canteiros de obras.
Brasília foi planejada para atender o alto escalão e
os funcionários públicos que teriam direito de permanecer no Plano Piloto, os
trabalhadores da construção civil e outras famílias de comerciantes e
ambulantes deveriam ficar nos núcleos e acampamentos, as cidades satélites
somente depois seriam construídas.
Mas, por necessidade em acomodar os pioneiros foi
necessária a construção de Taguatinga no ano de 1958, sendo assim oficializada
a primeira cidade satélite do Distrito Federal.
Taguatinga surge nas terras da fazenda que pertencia
ao município de Luziânia 25 km à Oeste do Plano Piloto, como alternativa de
desafogar o trecho dos núcleos até o centro e erradicar as invasões que se
alastravam por todo o Distrito Federal.
Era sem dúvida uma opção para acomodação de famílias
pioneiras previamente cadastradas para receber lotes na recém-criada satélite.
O processo de cadastro para ocupação de Taguatinga
não agradou os pioneiros e nem mesmo atendiam a demanda por moradia.
Ficando
restrito o número de família para serem contempladas com lotes ou projeto de
casas populares que seriam posteriormente entregues.
Em 21 de abril de 1960, o mais esperado
acontecimento de todos os brasileiros, JK inaugura Brasília no Plano Piloto,
cerne de todas as horarias com direito a fogos de artifícios.
Os núcleos provisórios deveriam ser extintos os
canteiros destruídos e os candangos seriam retornados aos seus lugares de
origem.
Ninguém saiu ou retornou para seus lugares de
origem, permaneceram contra a vontade da Novacap.
Surge a Vila Dimas ao Sul de Taguatinga, no dia 1 de
maio de 1960, com intencionalidade de dar espaço aos excluídos das inúmeras
invasões, os quais pudessem erguer suas moradias.
O líder pioneiro Dimas Leopoldino da Silva assentou
aproximadamente 3 mil famílias de várias invasões, sacolândia era uma invasão que
seus barracos eram feitos de sacos de cimentos endurecidos pela chuva.
Outra invasão que foi erradicada para a Vila Dimas,
foi a do IAPI e inúmeras famílias que não se enquadravam para recebimentos dos
lotes do governo.
Anos a seguir os núcleos provisórios resistiram e se
fixaram em seus locais, outros foram transferidos para a Satélite de Ceilândia
que também surgiu como alternativa de barrar o crescente números de invasões
que não paravam de crescer no Distrito Federal.
O Distrito Federal conta hoje com 31 regiões
administrativas, Taguatinga tornou-se R.A III / Decreto 4.545 de 10 de dezembro
de 1964, as invasões de terras públicas não param de surgir, até mesmo na classe
média e alta.
O governo do DF tem sistematicamente tratado este
assunto com inúmeras politicas habitacionais, cooperativas, assentamentos que
se tornam em RA, listagem para contemplação dos pioneiros, funcionalismo
público e outras normas para contemplar seus habitantes.
A análise que faço neste trabalho de pesquisa, é que
o processo de moradia no quadrilátero Cruls, extrapolou para os mesmos
municípios que foram desapropriados e agora outros.
A dinâmica crescente por moradia no DF nunca teve fim,
são atenuadas com programas governamentais que tentam dirimir esta questão, que
deu inicio com a interiorização no Planalto Central.
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